Ser profissional da educação sempre foi algo desafiador e instigante, no
entanto, conforme os anos se seguem, o caráter de sacrifício, de abnegação tem
se tornado muito mais sinônimo da profissão do que propriamente o desafio da
busca do conhecimento.
Ao ser questionado sobre o assunto, qualquer professor é capaz de listar
uma série de motivos que podem ser caracterizados como responsáveis pela dificuldade
encontrada em realizar sua função de maneira eficiente e prazerosa, entre eles,
costumam receber destaque a falta de interesse do aluno nas questões escolares
e a falta de apoio da família. Tomemos, então, esses dois pontos como base para
nortear a reflexão sobre os desafios que a vida contemporânea para as práticas
de ensino-aprendizagem, especialmente para a disciplina de Língua Portuguesa.
A sociedade, os anseios e os recursos que o século XXI nos apresenta são
muito diferentes do que se vivenciou, por exemplo, nos séculos XVIII e XIX; no
entanto, a escola pública contemporânea ainda reflete os séculos passados e tem
encontrado dificuldade para acompanhar o ritmo acelerado do mundo moderno.
A escola, como a conhecemos, surge no Brasil com a missão de trazer
saberes consolidados a um país que precisava ser “civilizado” e catequizado;
essa fórmula não se enquadra mais no país em que viemos hoje. Seja por falta de
recursos financeiros ou por falta de preparo de seu material humano, a escola
ainda não consegue abrir totalmente as portas para os avanços tecnológicos,
linguagens e mídias que existem além de seus muros, e é justamente além dos
muros da escola que nossos alunos vivem e de onde trazem o conhecimento que
irão partilhar dentro dela.
Ao lecionar a disciplina de língua portuguesa, o professor deve estar
ciente do que constitui realmente o seu material de trabalho. A língua
portuguesa não é aquele apanhado de regras encerradas no livro didático
distribuído ao aluno, nem é aquele recorte que aparece no mesmo livro sob o
título de “texto para interpretação”. A língua portuguesa é o instrumento
através do qual o aluno, ou antes ainda, o indivíduo, cumprimenta sua família,
ouve a música de sucesso, assiste ao programa na televisão, conversa com os amigos
pelo MSN, lê as notícias no jornal ou na internet, entre tantas outras
atividades diárias. Chegar à escola e perceber que grande parte do uso
cotidiano da língua ainda é ignorado pela escola e que o seu ensino ainda se
concentra na reprodução de regras que não refletem o uso geral, só pode
contribuir para distanciar o aluno do que se ensina na escola.
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