sábado, 15 de junho de 2013

Uma análise da proposta didática de Schneuwly e Dolz comparada à Proposta Curricular do Estado de São Paulo



Ao serem solicitados pela Rede Pública de Educação de Genebra, Schneuwly e Dolz criaram uma proposta didática de agrupamento em tipologias e em gêneros que, em sua estruturação, levava a uma evolução progressiva do estudo textual.
Para estruturar tal proposta e dividir de maneira eficaz a infinidade de possibilidades de produções textuais Schneuwly e Dolz precisaram levar em conta critérios como a correspondência dos textos às finalidades sociais presentes na escola e a presença de distinções tipológicas já consagradas. Dessa forma, surge o agrupamento por tipologia textual, ligado aos domínios de interação social necessários para  o desenvolvimento da produção oral e escrita. Cada domínio é representado por uma tipologia, o narrar se liga à cultura literária ficcional; o relatar, à documentação das ações humanas; o expor, à construção e transmissão de saberes, o argumentar, à discussão de problemas sociais controversos e o prescrever, à instrução e prescrição de ações. A partir desse agrupamento, uma infinidade de gêneros pode ser criada e estudada.
Ainda de acordo com a proposta de Schneuwly e Dolz, o trabalho com os diferentes agrupamentos e seus gêneros correspondentes deveria ser realizado de maneira simultânea e progressiva, a cada ciclo vencido pelo aluno, mais profundo e complexo se tornaria o estudo de cada tipologia, seus gêneros e estrutura.
A Proposta Curricular do Estado São Paulo (PCESP) para o EF-II se baseou no que os autores genebrinos propuseram para tratar da abordagem das tipologias e gêneros textuais, no entanto pode-se notar algumas diferenças. Em vez de trabalhar com todas os agrupamentos de forma simultânea e progressiva, a PCESP prevê o foco em um agrupamento a cada ano do Ensino Fundamental II, o narrar na quinta série/sexto ano, o relatar na sexta série/sétimo ano, o prescrever na sétima série/oitavo ano e, excepcionalmente dois, o expor e o argumentar  na oitava série/nono ano.
O modelo adotado pela PCESP se distancia do original de Schneuwly e Dolz principalmente na forma de aplicação, focada em uma tipologia em cada ano. Essa alteração pode trazer vantagens e desvantagens em relação à proposta original. O foco específico em um agrupamento permite que se explore de maneira mais ampla os inúmeros exemplos de gêneros que podem surgir na sociedade como materialização daquela tipologia, mas justamente pelo fato de os gêneros serem uma criação social para possibilitar a interação humana em diferentes níveis e esferas de comunicação, nem sempre esses gêneros seguirão à risca a estrutura e os traços tipológicos previstos para eles. A criatividade e a necessidade de comunicação humanas criam e continuarão criando gêneros híbridos para dar conta da significação exigida para aquela determinada situação. Tal fenômeno torna difícil o trabalho exclusivo em sala de aula com apenas uma tipologia em cada ano.
Então, se a PCESP propõe o trabalho individual com tipologias, cabe ao professor, de maneira flexível e de acordo com sua realidade escolar, mesclar gêneros e tipologias quando essas forem adequadas à necessidade comunicativa do aluno e da comunidade.

Referências Bibliográficas
BENTES, ANNA CHRISTINA. Linguística textual: Tipologias, Agrupamentos e Textualidade. Campinas, SP: UNICAMP/REDEFOR, 2012. P. 01/08. Material digital para AVA do Curso de Especialização em Língua Portuguesa REDEFOR/UNICAMP.

 DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Gêneros e progressão em expressão oral e escrita - elementos para reflexões sobre uma experiência suíça (francófona). In: ROJO, R. H. R.;  CORDEIRO, G. S. (Orgs./Trads.) Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004[1996], p. 41-70.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto,fica muito claro como e quando o professor deve trabalhar cada tipo de texto em qual série.

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