Ao serem solicitados pela Rede Pública de Educação de Genebra, Schneuwly
e Dolz criaram uma proposta didática de agrupamento em tipologias e em gêneros
que, em sua estruturação, levava a uma evolução progressiva do estudo textual.
Para estruturar tal proposta e dividir de maneira eficaz a infinidade de
possibilidades de produções textuais Schneuwly e Dolz precisaram levar em conta
critérios como a correspondência dos textos às finalidades sociais presentes na
escola e a presença de distinções tipológicas já consagradas. Dessa forma,
surge o agrupamento por tipologia textual, ligado aos domínios de interação
social necessários para o
desenvolvimento da produção oral e escrita. Cada domínio é representado por uma
tipologia, o narrar se liga à cultura literária ficcional; o relatar, à
documentação das ações humanas; o expor, à construção e transmissão de saberes,
o argumentar, à discussão de problemas sociais controversos e o prescrever, à
instrução e prescrição de ações. A partir desse agrupamento, uma infinidade de
gêneros pode ser criada e estudada.
Ainda de acordo com a proposta de Schneuwly e Dolz, o trabalho com os
diferentes agrupamentos e seus gêneros correspondentes deveria ser realizado de
maneira simultânea e progressiva, a cada ciclo vencido pelo aluno, mais
profundo e complexo se tornaria o estudo de cada tipologia, seus gêneros e
estrutura.
A Proposta Curricular do Estado São Paulo (PCESP) para o EF-II se baseou
no que os autores genebrinos propuseram para tratar da abordagem das tipologias
e gêneros textuais, no entanto pode-se notar algumas diferenças. Em vez de
trabalhar com todas os agrupamentos de forma simultânea e progressiva, a PCESP
prevê o foco em um agrupamento a cada ano do Ensino Fundamental II, o narrar na
quinta série/sexto ano, o relatar na sexta série/sétimo ano, o prescrever na
sétima série/oitavo ano e, excepcionalmente dois, o expor e o argumentar na oitava série/nono ano.
O modelo adotado pela PCESP se distancia do original de Schneuwly e Dolz
principalmente na forma de aplicação, focada em uma tipologia em cada ano. Essa
alteração pode trazer vantagens e desvantagens em relação à proposta original.
O foco específico em um agrupamento permite que se explore de maneira mais
ampla os inúmeros exemplos de gêneros que podem surgir na sociedade como
materialização daquela tipologia, mas justamente pelo fato de os gêneros serem
uma criação social para possibilitar a interação humana em diferentes níveis e
esferas de comunicação, nem sempre esses gêneros seguirão à risca a estrutura e
os traços tipológicos previstos para eles. A criatividade e a necessidade de
comunicação humanas criam e continuarão criando gêneros híbridos para dar conta
da significação exigida para aquela determinada situação. Tal fenômeno torna
difícil o trabalho exclusivo em sala de aula com apenas uma tipologia em cada
ano.
Então, se a PCESP propõe o trabalho individual com tipologias, cabe ao
professor, de maneira flexível e de acordo com sua realidade escolar, mesclar
gêneros e tipologias quando essas forem adequadas à necessidade comunicativa do
aluno e da comunidade.
Referências Bibliográficas
BENTES, ANNA CHRISTINA. Linguística textual: Tipologias,
Agrupamentos e Textualidade. Campinas, SP: UNICAMP/REDEFOR, 2012. P. 01/08.
Material digital para AVA do Curso de Especialização em Língua Portuguesa
REDEFOR/UNICAMP.
DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Gêneros e progressão
em expressão oral e escrita - elementos para reflexões sobre uma experiência
suíça (francófona). In: ROJO, R. H. R.;
CORDEIRO, G. S. (Orgs./Trads.) Gêneros
orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004[1996], p.
41-70.
Parabéns pelo texto,fica muito claro como e quando o professor deve trabalhar cada tipo de texto em qual série.
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